quinta-feira, 10 de março de 2011

De um filme

A construção da sensibilidade do ser humano tem seu caminho mais fácil quando não a tolhem na primeira oportunidade. Tendo-a ainda fresca e pura, será mais difícil petrificá-la na medida em que surgirem circunstâncias propícias para isso.


No entanto, desde cedo situações de embrutecimento da alma nos são apresentadas como alimento a ser ingerido sem opção de recusa. Em nome de pertencer adequadamente a uma determinada sociedade e a determinados padrões, quebra-se dentro de nós aquilo que nos é mais nobre e mais belo, quebra-se aquilo que constitui nossa própria individualidade, aquilo que faz de nós uma nota única ressonante dentro de uma harmonia produzida por diversos instrumentos. Vale lembrar que a harmonia, essa, musical - e creio que as outras também... - não se constitui de um só som, mas do entrelaçamento de acordes diferentes e da maneira como se combinam. O que se distingue em uma melodia geralmente é o ápice da obra. O que é comum ou igual costuma ser visto como inferior ou como ausência de originalidade. Veja Wagner ou Stravinsky.


Não é uma questão de buscar a diferença a todo custo com o mero objetivo de angariar alguma notoriedade, mas sim de aceitar o que não é "si mesmo", mas sim de ampliar a moldura do quadro que representa a própria vida. Em "Taare Zameen Par" pode-se ver uma tentativa de demonstração de até que ponto chega a ignorância humana quando imersa em conflitos criados pela estrutura que criou para si. Quando a simplicidade se perde não é possível enxergar as coisas como são, mas só como seriam dentro do emaranhado de pensamentos e preconceitos no qual nos enredamos, a saber, de hábitos, costumes e ideias já preestabelecidos.


O filme, no entanto, consegue transmitir de maneira singela a possibilidade de se resgatar o que é simples e transformá-lo em paz e arte. O que não quer dizer omissão dos fatos e nem dos questionamentos que imposições nos trazem. É o papel que nos cabe, a nós, consciências ainda vivas.



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