quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

De algumas coisas lindas

1 - a dor nos olhos quando os primeiros raios do sol alcançam-nos pela manhã, ao abrirmos a janela;
2 - o recolhimento dos ombros quando um vento forte subitamente nos atinge, ao dobrarmos uma esquina;
3 - o arrepio na pele quando nos chocamos com a água fria de supetão, ao mergulharmos num rio;
4 - a amplitude dos pulmões quando se respira profundamente pela primeira vez, ao voltarmos do fundo da piscina;
5 - o cheiro que se desprende da terra quando a brisa quente sopra, ao cair das primeiras gotas de chuva;
6 - o espanto que nos invade quando uma estrela parece se mover ou cair, ao vermos voar um vagalume em direção ao céu escuro;
7 - o rubor que aquece as faces quando os pés penetram na água quente e perfumada, ao nos prepararmos para dormir;
8 - a escuridão de quando nos entregamos ao sono, e ele nos leva;
9 - a paz no coração quando abraçamos, entregues;
10 - a sensação de infinitude do universo quando, de onde estamos, não conseguimos enxergar o fim das montanhas, ou das águas do mar, ou das estrelas do céu.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

De uma palavra



“Estilhaço” é uma das palavras da língua portuguesa de que mais gosto. É uma palavra que representa na sua própria musicalidade algo que se quebra. O fricativo “ti” seguido do aberto “lha” remete ao som do copo que cai e parte de um ínfimo nada silencioso e imperceptível “es” ao golpe grave seguido dos suaves cacos esmiuçados que se esparramam no chão em pequenos rumores que batem, saltam e voltam até o novo silêncio, “ço", que se esvai.

Caminho sem volta o do que se quebra, em estilhaços.

Os cristais de açúcar não derretidos que restam no fundo do copo, depois do último gole, também são estilhaços, saturados, sem dissolução. Sem solução.

sábado, 6 de outubro de 2012

Dos quereres...


Querer

Uma sombra compartilhada, livros, cds e vinhos

Risadas, planos, viagens... o chalé!

A viagem no balão, o curso de mergulho, as meditações e trocas da melhor energia que há em mim...

Uma vitrola retrô com discos  anos 60, 70, 80 e 90 , um deslisar suave de sua mão sobre mim.

Que me queira!

Expressar a saudade e a vontade de estar junto

Conhecer a minha alma estando com você uma vez que somos sempre espelho do outro

Morar nas montanhas e perto do mar...

Ser amante incessante da vida e do que ela oferece como um brinde, todos os dias...

Uma chance de mostrar que pode ser...

Discussões filosóficas, cinema e de vez em quando um botequim...

Tocar violoncelo

Fazer yoga no mundo e nadar pelado

A bicicleta com cestinha e pão de gergelim...

Silêncio

O sorvete quente

Sintonia fina de quereres, de dizeres...

Cabelo solto no fusca azul e o sorriso

Ah, o sorriso...

E "se acaso me quiseres," não, não sou dessas mulheres que só dizem sim.

:) Dos dias em que um bom abraço reconforta toda gama de querer!


 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

De mais uma experiência



“... não somos nossos erros...”
Paranahansa Yogananda



Viver em outro país é um exercício constante de desidentificar-se de si mesmo. Diferente de viajar a outro país a turismo, situação na qual errar é permitido e até mesmo divertido, viver no exterior implica acostumar-se com os próprios equívocos ainda quando esses já extrapolaram os limites do bom senso, frequentemente tolerados em relação a quem está apenas de passeio.

                Aprender que o comércio funciona em horários diferentes dos que me são habituais é algo relativamente simples quando se sabe na teoria, mas não foram duas nem três vezes as que saí de casa para comprar algo e me deparei com tudo fechado e todos cozinhando, comendo ou dormindo. Também não foram poucas as vezes em que me assustei ao encontrar estabelecimentos funcionando em plena madrugada. Atravessar as ruas virou aventura, já que os semáforos para pedestres só funcionam se estamos parados em uma rua de mão única longe da esquina. Se estes estão perto da esquina, não há chance: ou se espera o condutor parar, o que é realmente uma gentileza da parte dele, ou se sai correndo entre a abertura de um sinal e o fechamento do outro junto com a leva de pessoas que estão por ali. Do contrário, não se atravessa ruas. Sair para caminhar num domingo de manhã só se for para encontrar as pessoas voltando da balada, que começa entre duas e três da madrugada, assim como estar com as crianças nas ruas, praças e parques à meia noite é algo corriqueiro e estimulado pelo movimento das sorveterias e lanchonetes para todas as idades com vitrines e portas abertas.
Quando se está em meio a uma conversa e todos de repente riem de algo, sempre fica aquela sensação de “qual foi a parte que eu perdi?” porque determinadas situações só fazem sentido pra quem vivenciou a infância, a idade escolar, a adolescência, a rotina do lugar... A história do país que se aprende na escola, os atores de televisão famosos apenas em âmbito local, os próprios programas de TV e produtos por aí divulgados, tudo se apresenta nebuloso e a indiferença frente ao desconhecido pode apresentar insipidez e certamente alheamento. E nem é dizer que se possa aprender a História nos livros. Sim, podemos. Mas só um brasileiro, por exemplo, consegue entender o ridículo que é festejar o dia do índio pedindo às crianças que coloquem uma peninha no meio da testa e que façam dois riscos de tinta guache em cada bochecha. Ridículo esse que, aliás, deve ser compartido por grande parte da América Latina pela similaridade com que se constituíram nações de língua materna europeia.
A maneira de vestir-se, pentear-se (nessa parte, em especial, confesso que tenho sentido bastante alívio por nunca ter me adaptado perfeitamente ao padrão de beleza nacional!), caminhar, ficar parado na esquina para não ser atropelada são suspeitas ambulantes de um estrangeirismo que atrai a curiosidade dos olhares e direciona uma atenção por vezes de admiração e outras de desprezo pela percepção de um outro diferente. A fala, no entanto, denuncia de forma irremediável a cisão daquilo que “não é daqui”. Não apenas pelo sotaque em si, que de maneira bastante lenta vai se diluindo, mas pela escolha vocabular, por um termo que geralmente não se usa, por um objeto simples cujo nome não se sabe exatamente por nunca ter sido necessitado e mesmo a rispidez que aparenta um “por nada!” a um agradecimento para o qual costumam dizer “não, não, por favor!”. Não apenas a acentuação das palavras de maneira adequada, mas até a ênfase musical que as palavras possuem quando são ditas fazem parte daquilo que forma a cultura onde se busca imergir. Um gesto, uma interjeição. Aliás, todas as interjeições, sejam de dor, de alegria, de esquecimento, de pesar. A maneira de segurar um copo, ou o mate... Tudo aponta para uma ação que se automatizou em uma máquina distinta.
Por mais estranho (e triste!) que pareça, quando quero me sentir em casa vou a um supermercado. Os produtos dispostos na prateleira, os cestos ou os carrinhos para aconchegar o consumo, os produtos Coca-Cola, Johnson&Johnson, Nestlé, os caixas, as filas, o dinheiro, as sacolas de plástico marcado com o nome do estabelecimento, ainda que desconhecido, me parecem familiar. A ausência da necessidade de proferir palavra torna-me, porém, naquele instante, igual a todos os outros.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Dos relâmpagos...

Os relâmpagos sempre me fascinaram pela maneira como vêm, assim, de repente.
A luz que emitem é como um aperto no coração, aquele de deixar ir, depois vem o estrondo mostrando o quão perto foi, do coração.
Tenho medo de choque, de todo tipo, se são tomadas, fios, não importa, conduzem energia e há o risco. Fujo!
Os relâmpagos também mas são intocáveis, quando escolhem algo ou alguém não lhe dão chance de não querer.
Paixão é relâmpago? Causa estragos.
As transformações que vivo diante da chegada de novas perspectivas profissionais, emocionais e mesmo da proximidade da linha que corta pela primeira vez o anel de saturno astrológico, que não consigo não acreditar, me fazem crer que estou num campo de batalha, onde relâmpagos cintilam meus olhos e apertam o meu coração.
Medos, anseios e toda gama de sentimentos, reconheço, mas não me detenho. Propago as ondas de calor esperando o contato, mas ele não vem.
Será que mudei tanto? E porque não querer conhecer as mudanças? Elas sempre trazem algo positivo e nesse caso a exatidão de onde caiu o raio... Mas o bonito mesmo é o clarão que se forma e só de lembrar meus olhos cintilam e sinto novamente um aperto no coração.